Despertei, repentinamente, do estado de inconsciência que abateu-se sobre mim após as doze doses de uísque que havia tomado na noite anterior. Encontrei-me estirado sobre o refluxo provocado pelo estado etílico no qual eu me encontrava até então. Antes tivesse contemplado a gélida face da pilha de ossos ceifadora de almas, ao menos não teria saboreado o nauseante gosto do meu jantar novamente. Pareço meio trágico ao colocar desta forma, mas adentrar os portões do inferno seria um tanto quanto menos desagradável e desconfortante que continuar a realizar essa triste tarefa da qual fui encarregado a qual chamam de "viver".
Motivos não me faltam para por um fim nesse fardo que carrego, mas para minha mais profunda infelicidade, coragem não foi me dada por aquele que dizem que criou tudo e todos para findar à mim mesmo. Por mais banais que eles, meus motivos, tendem a parecer, creio com todas as forças que minhas atrocidades já foram pensadas vezes, e vezes antes de minha pobre existência, mas nunca realizadas.
Não lamento por coisa alguma que algum dia, num vislumbre de insanidade, tenha feito. Foi graças à ela, a falta de consciência humanitária, que consegui externar minhas vontades repreendidas e torná-las reais. Parece-me um pouco repugnante o fato de um ser, como eu, ter capacidade para realizar tal ato, mas mesmo que incompreensível, é aceitável, ao menos para mim, que todas as pessoas tenham um fim digno. Quando digo digno, quero dizer, digno da pessoa que ela é, ou foi. Falo da pessoa interior e não aquela que tenta parecer perante a sociedade hipócrita da qual faz farte.
E é isso que lhes dou, a oportunidade de morrerem dignamente, acordado com seus atos em vida.